terça-feira, 20 de setembro de 2016

Campo, Capital e Habitus - Análise Discurso Crítica e Semiótica

Atividade de ACD – Filme: Nós que aqui estamos por vós esperamos.

Dulcinéia Ferrari C238FJ8

1)A primeira imagem deste filme é um letreiro, sobre um fundo branco que diz “o historiador é o rei”. De acordo com a preconização de Bourdieu, existem estruturas objetivas no mundo social que podem coagir a ação dos indivíduos que são construídas socialmente. Aqui já podemos perceber a representação de campo que é um espaço simbólico onde os conflitos legitimam as representações. O historiador, que tem tanto um compromisso com a “verdade” da ciência histórica quanto uma desconfiança com esta, uma vez que ele é visto como a figura que “descreve o ‘real’”, e o rei, como símbolo do poder, o poder de ditar “verdades”. Assim, o historiador construiu o seu espaço no campo pelo habitus que é a capacidade de incorporação de determinada estrutura social e acumulou capital específico (o domínio do campo, pelo seu conhecimento e preparo)  suficiente que o fortaleceu a conquistar seu lugar nesse campo.

2)Outra cena: uma imagem abre-se nas nuvens para deixar ver dois homens de joelhos, posição de humilhação, levando tiros que partem de alguém que não se vê nem corpo nem rosto, só arma. Afinal, o que é uma guerra senão pessoas desconhecidas matando-se umas às outras por motivos que elas desconhecem? Apenas cumprem com suas obrigações de obedecer a um sistema que, na grande maioria das vezes, elas nem compreendem. Aqui temos a representação de campo caracterizado pela disputa de algum tipo de espaço, onde prevalece a lei do mais forte sobre o mais fraco. Dentro desse campo, os executadores adquirem um habitus (matar, sem olhar a quem) que é a condição de existência. Os executados aqui, não tinham capital algum que lhes proporcionasse a possibilidade de negociação.


3) Imagem do cemitério (sempre em preto e branco), enfoca o túmulo de Alex Anderson (1882-1919), passa rapidamente para Detroit – fordismo como mostra o letreiro. Homens e máquinas trabalhando juntos sob as palavras: “o tempo de produção de um carro foi reduzido de 14h para 1h e 33 minutos”. Alex é funcionário na fábrica de carros, trabalha muito, ganha pouco, folga domingo. Letreiro: “Nunca teve um Ford T – morreu de gripe espanhola”. Segundo Bourdieu (1983) “[...] as lutas cujo espaço é o campo têm por objetivo o monopólio da violência legítima (autoridade específica)[...]”, que conserva ou subverte a estrutura distributiva do capital específico. Como o capital do funcionário era tão somente sua mão de obra a sua participação no processo de construção de um capital específico – o dinheiro – ele foi lembrado apenas como uma engrenagem. O seu habitus foi construído a partir de seu reconhecimento das leis do jogo, do objeto de disputas. Talvez ele soubesse que morreria sem nunca ter podido comprar o seu próprio Ford.

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