LITERATURA PORTUGUESA: “O GIGANTE ADAMASTOR”
Adriana N. da Silva C555770**
Andrea V. de Oliveira C270EA8**
Dulcinéia Ferrari C238FJ8**
Igor Noronha C20FJD6**
Leandro Soares C332283*
Marcelo de Oliveira C384836*
RESUMO
Os séculos XV e XVI foram caracterizados por movimentos culturais que puseram o
homem no centro das atenções (antropocentrismo), preterindo o Teocentrismo
(Deus no centro de tudo). Foram três, esses movimentos culturais: O Humanismo, O
Renascimento e o Classicismo. Mostraremos neste artigo um trecho do Canto V do
poema épico do poeta português Luiz Vaz de Camões, “Os Lusíadas” (1572), onde
ressaltaremos a visão antropocêntrica e crítica do período do Renascimento. O
Renascimento desenvolveuse
em países da Europa Central e Ocidental, como a
Itália (passando sucessivamente de Florença a Siena e depois a Roma, e alastrando
posteriormente a toda a Península Italiana), nos séculos XIV a XVI e veio a irradiar e
a ter fundas repercussões na cultura de praticamente todos os países do continente
europeu. As figuras de proa do movimento gostavam de se apresentar como críticos
do "obscurantismo" medieval, numa atitude de contestação à tradicional influência
da religião na cultura, no pensamento e na vida quotidiana ocidental.
Tratase
de “O Gigante Adamastor”, onde o autor recupera a figura mitológica de um
dos titãs que se revoltaram contra Zeus e que surge no poema de Camões como
uma criação maravilhosa, a incorporar e simbolizar a quase intransponível força do
mar. A vitória sobre o obstáculo que este gigante constitui significa o completo
domínio dos mares pelos portugueses e suas naus, neste caso específico,
comandadas pelo navegante desbravador de mares, Vasco da Gama.
Palavraschave:
Gigante Adamastor, Lusíadas, Camões, Literatura portuguesa.
*Graduandos do 2°semestre
** Graduandos do 3° semestre
INTRODUÇÃO
“Os Lusíadas”, poema épico do grande poeta português Luís de Camões, é uma
obra marcadamente renascentista, não só porque foi escrito em plena época do
Renascimento em Portugal, mas porque reflete os ideais deste movimento
ideológico, científico, literário, artístico e político.
O recurso da mitologia clássica não poderia deixar de estar presente numa obra que
se inspira no modelo clássico da Eneida, porém, considerando as diferenças de
intenção e de época, o papel de “Os Lusíadas” teria de ser forçosamente muito
diferente. Na obra de Camões não são os deuses que determinam a história dos
heróis. Eles são, às vezes, figuras alegóricas ou com funções meramente
figurativas; outras, surgem como reflexo do entusiasmo renascentista pelos instintos
e forças naturais (ou sobrenaturais) ignorados, que impulsionam o destino dos
homens, mas, acima de tudo, o seu papel é mostrar a vitória do homem moderno,
que começou a aprender a dominar o planeta, sobre os deuses.De acordo com
Massaud Moisés, o episódio do Gigante Adamastor, localizado no canto V de Os
Lusíadas, contém a mitificação das dificuldades que a Natureza opunha à
penetração portuguesa “por mares nunca dantes navegados” e do seu malogro ante
a impavidez dos nautas quatrocentistas (MOISÉS, 1997: 92). Adamastor,
comparado pelo poeta ao Colosso de Rodes, anuncia profeticamente a Vasco da
Gama, os infortúnios que recairiam sobre os portugueses que ousassem trafegar
uma nova rota marítima de acesso à Índia.
No plano histórico, simboliza a superação pelos portugueses do medo do “Mar
Tenebroso”, das superstições medievais que povoavam o Atlântico e o Índico de
monstros e abismos. Adamastor é uma visão, um espectro, uma alucinação que
existe só nas crendices dos portugueses. É contra seus próprios medos que os
navegadores triunfam.
No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes
da lírica camoniana: o do amor impossível e o do amante rejeitado: Adamastor, um
dos gigantes filhos da Terra, apaixonouse
pela nereida Tétis. Não correspondido,
tenta tomála
à força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no Cabo das
Tormentas, numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.
Este episódio é importante, pois nele se concentram as grandes linhas da epopeia:
1. O real maravilhoso (dificuldade na passagem do cabo).
2. A existência de profecias (história de Portugal).
3. Lirismo (história de amor, que irá ligarse
mais tarde, à narração maravilhosa da
Ilha dos Amores);
4. É também um episódio trágico, de amor e morte;
5. É um episódio épico, com a vitória do homem sobre os elementos (água, fogo,
terra, ar);
O GIGANTE ADAMASTOR
O Gigante Adamastor de Os Lusíadas, poema épico de Camões, recupera a figura
mitológica de um dos titãs que se revoltaram contra Zeus e foram por este,
castigados. Adamastor foi personificado no Cabo das Tormentas, futuro Cabo da
Boa Esperança. Inicialmente, o seu aspecto é o de uma figura descomunal, estranha
e medonha. Nas estrofes 37 e 38 do canto V, a viagem da esquadra é rápida e
próspera até se formar uma “temerosa nuvem negra”, que escurece os ares,
acompanhada dos bramidos do mar irado. O cenário aterrador faz com que a
imagem do Gigante se torne ainda mais temível e assustadora.
37
Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca d'outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando ua noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Ua nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
38
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
«
Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?»
Entre às estrofes (39 e 40) é seguida a descrição.
A aparência horrenda do gigante é sugerida ainda antes de ele surgir. O poeta
comparao
ao colosso de Rodes, não poupando adjetivos para a sua descrição.
Este aspecto negro e carregado do céu e do mar funciona como uma espécie de
presságio, anunciando qualquer coisa de temível, que vem a incorporarse
a
Adamastor.
A sua imagem traduz as dificuldades sentidas pelos navegadores na passagem do
oceano Atlântico para o oceano Índico, ao dobrarem o Cabo das Tormentas, mais
tarde, Cabo da Boa Esperança. É mais um processo de enaltecimento, ao encarnar
a vingança dos elementos naturais face à audácia dos navegadores portugueses,
que se atreviam a penetrar em espaços até então inacessíveis ao homem.
Entre às estrofes (41,42,43,44,45,46,47 e 48) Adamastor apoderase
da palavra e
ameaça os navegantes.
Na estrofe (49) o Gigante é perguntado acerca da sua identidade, onde responde de
forma pesarosa , pois relembraria seu triste passado:
49
Mais ia por diante o monstro horrendo,
Dizendo nossos Fados, quando, alçado,
Lhe disse eu: «
Quem és tu? Que esse estupendo
Corpo, certo me tem maravilhado!»
A boca e os olhos negros retorcendo
E dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:
Na estrofe (50) o Gigante revela ser o Cabo das Tormentas.
50
«Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,
Plínio e quantos passaram fui notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto Promontório,
Que pera o Pólo Antártico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende.
Nas estrofes (51,52,53,54,55,56,57,58 e 59) o Gigante Adamastor relata como, em
virtude de seu amor, foi transformado em pedra dura.
Assim como Adamastor apareceu, desaparece, Vasco da Gama fica apenas com a
lembrança das ameaças feitas por ele e a esquadra segue viagem, de acordo com o
segue na última estrofe:
60
Assim contava; e, cum medonho choro,
Súbito d' ante os olhos se apartou;
Desfezse
a nuvem negra, e cum sonoro
Bramido muito longe o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos, que Adamastor contou futuros.
Características : Episódio do Gigante Adamastor
O episódio do Gigante Adamastor é relativamente curto. Composto por vinte e
quatro estrofes e 192 versos (Canto V, 37 – 60), distribuídas da seguinte forma:
Estrofes 3738:
Introdução (2)
Estrofes 3948:
Adamastor 1 (10)
Estrofe 49: Transição (1)
Estrofes 5059:
Adamastor 2 (10)
Estrofe 60: Epílogo (1)
Há uma distribuição equilibrada das partes, das vinte e quatro estrofes, quatro se
destinam à introdução, transição e epílogo; as vinte restantes, divididas ao meio,
apresentam o herói da sequência. Tanto Vasco da Gama como o Adamastor
aparecem como narradores e como personagens.
No plano histórico, simboliza a superação dos portugueses do medo do “Mar
Tenebroso”, superstições medievais que povoavam o Atlântico e o Índico de
monstros e abismos.
No plano lírico, considerado um dos pontos altos do poema, retoma dois temas da
lírica camoniana: amor impossível e amante rejeitado.
O Canto V do poema épico “Os Lusíadas” foi escrito em primeira pessoa, o tempo é
rigorosamente cronológico, encontrando uma breve interrupção apenas quando o
Gigante Adamastor entra em cena, a ação se processa nas embarcações da
armada, o oceano ocupa um lugar de destaque na narrativa.
Considerações Finais
Com o desenvolvimento deste artigo, podese
compreender melhor o trecho
analisado da obra Os Lusíadas de Luiz Vaz de Camões. O artigo teve como foco o
Canto V, que se inicia na estrofe 37 e finaliza na estrofe 60, episódio trágico de amor
e ódio, concentrando grandes linhas da epopéia. A poesia de Camões pode ser
dividida em duas formas básicas, são elas: a medieval e a clássica. Ou ainda,
respectivamente, a tradicional já que Camões se permitiu tanto da “medida
velha”(representadas nas redondilhas) quanto a “medida nova” (que se subdivide em
lírica e em épica), como é o caso de Os Lusíadas.
Portando, o episódio épico do Gigante Adamastor tem como principal a figura
mitológica (Gigante) que criada por Camões significa todos os perigos, as
tempestades, os naufrágios e “perdições de toda sorte” que os portugueses tiveram
de enfrentar e transpor nas suas viagens, assim consolida a vitória do homem sobre
os elementos como água, fogo, terra e ar.
Referências Bibliográficas
<http://www.suapesquisa.com/biografias/camoes1/ >Acesso em 22/05/2015
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