Capítulo 3 –
Pratica de Morfossintaxe
O ESTUDO DA
SINTAXE
A SINTAXE é a parte da
gramática que se preocupa com todas as relações entre as unidades linguísticas
no eixo sintagmático.Para que uma frase seja considerada como pertencente ou
não pertencente à Língua Portuguesa a sequência de sua construção tem que ser
permitida na língua. Essa permissão é dada pelas Leis sintáticas que autorizam
ou recusam determinadas construções, preservando a identidade da língua e
assegurando sua capacidade comunicativa.
O campo de atuação da
sintaxe é no eixo sintagmático da língua, onde todas as relações entre palavras
geram sintagmas e os sintagmas geram orações. É preciso distinguir o que se
considera frase e oração. Frase é qualquer unidade linguística que pode constituir-se
em uma única palavra (Choveu), uma interjeição (Onde?) ou em enunciados mais
complexos (Hoje vai chover).
Oração é quando a frase contém em si todos os dados para a
comunicação, se presta a análise sintática fora do seu contexto e exiba de
maneira clara ou oculta um núcleo verbal. A oração reúne na maioria das vezes
duas unidades significativas chamadas sujeito e predicado.
Os alunos atentos estudam
as lições todos os dias antes do jantar.
Os alunos atentos estudam
as lições todos os dias.
Os alunos atentos estudam
as lições.
Os alunos atentos estudam.
Estudam.
Percebemos no exemplo acima como o verbo (núcleo da oração) é o
único termo constituinte indispensável na oração. A frase já é capaz de
“sobreviver” se retirada do contexto e ainda prestar-se à análise sintática de
seus constituintes. Veja:
- Olá! (= frase)
- Tudo bem? (= frase)
- Tudo. (= frase)
- Você vai ao baile? (= frase e oração)
- Não. (= frase)
- Eu vou/porque sou um ótimo bailarino. (= frase e duas orações)
Percebe-se, então, que toda oração pode ser frase, mas nem toda
frase pode ser oração. Todo enunciado que se comporta como oração é chamado de
período, que pode ser simples ou
composto. Entende-se por período a oração que começa com letra maiúscula e
termina com uma pontuação final.
A estrutura sintagmática
do português possui uma hierarquia gramatical de unidades linguísticas
(morfema, palavra, sintagma, frase, oração, texto), que são constituintes
imediatos das frase/orações. Uma palavra qualquer analisada a partir de seus
constituintes estruturais (os morfemas dependentes, ou seja, radical,
desinências, prefixos etc.) em uma perspectiva vertical aceita apenas
denominações quanto a sua classificação gramatical. Quando essa palavra se
relaciona, se combina com outras palavras no eixo horizontal ela assume o
status de sintagma.
Consideraremos Sintagma
toda construção sintática que constitua um “bloco” significativo ou funcional,
formado a partir de uma ou mais unidades linguísticas (a palavra) que pode
“mover-se” no eixo horizontal.
Os sintagmas são formados por um só núcleo significativo, ou por
ele e palavras circundantes como determinantes e/ou
modificadores/intensificadores.
Exemplo:
Casa. Esta casa
bonita.
Casa é o núcleo significativo, esta um determinante e bonita um modificador.
Essas unidades nucleares ou grupais desempenham as FUNÇÕES SINTÁTICAS. O falante da língua não processa
qualquer enunciado sílaba por sílaba, palavra por palavra, seja falando, lendo
ou escrevendo. Ao processar enunciados escritos ele os divide em blocos
significativos que podem, inclusive, mudar de posição no eixo sintagmático.
Observe:
Aqueles passarinhos fizeram seus ninhos em um
galho de árvore.
1 v 2 3
Poderíamos ter as
seguintes possibilidades de reorganização desses blocos (sempre tomando o verbo
como ponto de apoio):
• 3 + 2 + V + 1;
Em um galho de árvore seus ninhos fizeram aqueles passarinhos,
• 3 + V + 2 + 1;
Em um galho de árvore fizeram seus ninhos aqueles passarinhos,
• V + 3 + 2 + 1;
Fizeram em um galho de árvore seus ninhos aqueles passarinhos,
• 2 + 1 + 3 + V;
Seus ninhos aqueles passarinhos em um galho de árvore fizeram, etc.
Percebemos que na oração
acima temos três sintagmas que se movem no eixo horizontal, em função do verbo
- ponto de apoio -, de forma a propiciar variações de posições criando várias
possibilidades de leitura. A combinação 2 + 1 + 3 + V, por exemplo, “soa” mal
aos ouvidos do falante, dificultando seu entendimento porque se distancia de
certo padrão linguístico em uso. A isso chamamos de força das leis sintáticas
em uma língua.
Na oração:
“Em certos dias enevoados, o
sol de verão parece ficar muito fraco.”, destacando-se outra vez o núcleo
verbal como referência, temos dois sintagmas anteriores a ele:
(a) em certos dias enevoados,
(b) o sol de verão, e um
posterior a ele,
(c) muito fraco.
O sintagma o sol de verão
tem por núcleo o substantivo sol, e o
sintagma muito fraco tem por núcleo o
adjetivo fraco. Por isso, dizemos que
o sol de verão é um sintagma nominal,
pois tem como base uma palavra substantiva, e que muito fraco é um sintagma adjetival, pois sua base nuclear é um
adjetivo. Já o sintagma em certos dias
enevoados tem uma configuração diferente, ou seja, é formado por uma preposição
e um sintagma nominal. Esse é o caso dos sintagmas preposicionados, que
poderiam ser representados pela seguinte fórmula: SP = preposição + SN.
Tipos de
sintagmas:
O SINTAGMA NOMINAL (SN) é uma unidade
significativa da oração que sempre terá como núcleo uma palavra de natureza (ou
base) morfológica substantiva, podendo vir circundado por determinantes e/ou
modificadores nominais. As possibilidades de combinações são infinitas. Veja:
- este meu anel de ouro
branco,
- aquele anel dourado,
- anel caro demais,
- nenhum anel com
gravação dourada,
- este meu anel com
gravação dourada.
Observe como os
modificadores do núcleo substantivo (anel) de um sintagma nominal podem ser
eles mesmos um sintagma adjetival, caro
demais, ou um sintagma preposicionado, de
ouro branco, com gravação dourada.
O SINTAGMA
ADJETIVAL
(SA) tem como núcleo um adjetivo que, assim como o sintagma nominal, pode ser
constituído apenas por esse adjetivo ou circundado por outros elementos, como
advérbios intensificadores, modificadores adverbiais ou sintagmas
preposicionados. Observe, respectivamente:
- Estes anéis são caros demais. (adj. + intensif.)
- Ela se mostrou surpreendentemente honesta. (modif. adv. + adj.)
- Andar pode ser favorável à saúde. (adj. + sintag. prepos.)
O SINTAGMA PREPOSICIONADO (SP), como já dito, constitui-se de preposição + sintagma
nominal. Esse tipo de sintagma pode articular-se a um substantivo, a um
adjetivo, ou a um verbo. Em:
- Os pássaros de topetes azuis constroem seus ninhos no alto das
montanhas, temos dois sintagmas preposicionados:
(a) de topetes azuis: (que se articula com pássaros)
(b) no alto das montanhas (que se articula com o verbo constroem)
Internamente ao sintagma (b), temos um outro SP:
(c) das montanhas (formado por de + as montanhas e articulado ao
termo anterior alto).
- Os cidadãos honestos
precisam do auxílio da polícia, temos um primeiro SP, do auxílio da polícia (de + auxílio da polícia) e, internamente a
este, da polícia (de + a polícia).
Também é possível que um SP se prenda a um adjetivo - favorável á saúde (a+a saúde) - e, em alguns casos, que também se
articule até mesmo a um advérbio, por exemplo, favoravelmente à saúde. Os sintagmas podem se comportar como
autônomos ou internos.
SINTAGMAS AUTÔNOMOS se movimentam sozinhos no
eixo sintagmático, ocupando diferentes posições e constituindo-se, até mesmo,
de outros SINTAGMAS INTERNOS, que
por sua vez, estão contidos nos sintagmas autônomos, não tendo liberdade de se
movimentar além do limite do sintagma que os contém porque se fixam às palavras
anteriores, constituintes de outros sintagmas. Na oração “como o ódio é muito
prejudicial à saúde”, veja o que ocorreria se dividíssemos o sintagma muito
prejudicial à saúde em dois, considerando-os autônomos:
- o ódio é muito prejudicial à saúde
O sintagma à saúde não é autônomo, pois não se
articula ao verbo ser, o que geraria uma frase sem sentido, como “o ódio é à saúde”. Esse sintagma
prende-se ao termo prejudicial e é com ele que se forma o sintagma completo: muito prejudicial à saúde (este, sim, um
sintagma adjetival autônomo).
Veja o que ocorre em outra oração:
- As flores nascem mais bonitas na primavera.
Os dois sintagmas à direita do verbo são autônomos porque podem
articular-se sozinhos ao verbo: as flores nascem mais bonitas e as flores
nascem na primavera. Os sintagmas autônomos se movimentam no eixo sintagmático
e podem ser substituídos, de maneira prática, pelos pronomes retos
ele(s)/ela(s) quando se tratar de substantivos ou SN; o advérbio lá pode ser
por um sintagma preposicionado circunstancial de lugar; o advérbio assim, de um
circunstancial de modo etc. Assim:
- Seu antigo
colega de faculdade/ assinava/ revistas de cultura geral/ com interesse./
[=/Ele/ assinava-/as /assim/ ou /Ele/ assinava/ isso/ assim./]
- /Pessoas que
têm muito dinheiro/ vivem/ em casas com muito mármore./ (= /Elas/ vivem/lá/ ou/
Elas/ vivem/ nelas./).
SINTAGMA ADVERBIAL tem como núcleo um
advérbio, ainda que essa nomenclatura geralmente não seja usada. Eles podem
sozinhos constituir o sintagma (cedo; lentamente) ou vir acompanhados por
intensificador (muito cedo) ou modificador (dolorosamente cedo),
semelhantemente aos sintagmas adjetivais. Funções adverbiais (como
modificadores circunstanciais) também podem ser exercidas pelos sintagmas
preposicionados, por apresentarem as mesmas características morfossintáticas e,
inclusive, semânticas de um advérbio, como nas construções: a chuva cai cedo, a
chuva cai de manhã, e a chuva cai à mesma hora.
SINTAGMA VERBAL é um dos elementos
básicos da oração. Ele tem o verbo ou a locução verbal como núcleo, e pode
constituir-se apenas por esse núcleo ou apresentar diversas configurações,
quando acompanhado de outros tipos de sintagmas. É o que temos a seguir:
- As crianças adormeceram,
- O professor perdeu as provas dos alunos,
- Todos podem precisar de mais dinheiro,
- Os amigos enviaram condolências à família.
No eixo sintagmático, apenas o sintagma verbal não pode deixar de
figurar em uma oração e vai exercer sempre a mesma função, a de predicado. Na
linha horizontal, dependendo das relações e das posições que ocuparem, os
demais tipos de sintagma poderão exercer funções diversas. Apenas o sintagma
adverbial, com núcleo advérbio, terá também uma função sintática fixa: a de
adjunto adverbial.
Decompondo os sintagmas.
Para facilitar a compreensão de fatos semânticos e o domínio da
própria estrutura da língua uma estratégia bem prática para a decomposição de
sintagmas é tomar o núcleo verbal da oração como ponto de referência ou de
apoio. Visualize a decomposição:
- Todos aqueles brinquedos de cores alegres
sumiram do quarto dos fundos.
Sintagma Nominal Verbo Sintagma Preposicionado
- Todos aqueles brinquedos de cores alegres
Pré det. + det. Núcleo subst. Sint. Prep.
- de cores
alegres
Prep. Sint. Nom.
- cores alegres
Núcleo subst. Mod. Adj.
- de o quarto dos fundos
Prep. Sint. Nom.
- o quarto
dos fundos
Det. Núcleo subst. Sint. Prep.
- De os fundos
Prep. Sint. Nom.
- Os fundos
Det. Núcleo subst.
Para sabermos a extensão de um sintagma, basta perceber a relação
de dependência que existe entre seus componentes e observar também que os sintagmas, quando autônomos, podem ser
substituídos por um termo próprio para isso - as proformas (um pronome reto, um
demonstrativo neutro, por exemplo, ou um adjetivo). Perceba:
- O
parecer da comissão de senadores foi desfavorável à aprovação do projeto.
(Ele foi interessante.).
O sintagma o parecer da
comissão de senadores, à esquerda do verbo, equivale por inteiro, a um
pronome ele ou isso, por exemplo. Observe que existe uma relação de dependência
entre o primeiro sintagma preposicionado da
comissão de senadores e o substantivo anterior parecer, e do segundo sintagma de
senadores ao substantivo comissão.
Se retirarmos o termo comissão, o
sintagma de senadores não terá a que
se prender, pois não poderia articular-se à palavra parecer, uma vez que não é a ela que atribui uma característica,
mas a comissão. O que temos no
primeiro sintagma é exatamente isto:
- o parecer da comissão de senadores
(sintagma - autônomo = ele/isso)
- da comissão de senadores (sintagma - interno)
- de senadores (sintagma - interno).
O segundo sintagma, à direita do verbo: desfavorável à aprovação
do projeto, é um sintagma autônomo, ou seja, pode se movimentar por inteiro no
eixo sintagmático. À aprovação do projeto é dependente do termo anterior
desfavorável e não do verbo foi, constituindo, assim, um sintagma interno. O
sintagma do projeto, por sua vez, é outro sintagma preposicionado interno,
preso à palavra anterior (aprovação) do outro sintagma preposicionado. É como
se tivéssemos um sintagma menor dentro de outro maior e assim por diante.
Observe:
- desfavorável à aprovação do projeto (1 °
sintagma - autônomo)
- à aprovação do projeto- (2° sintagma - interno)
- do projeto (3° sintagma - interno)
Dessa
maneira, fica evidente que o sintagma do projeto não se articula ao núcleo
adjetivo desfavorável e muito menos ao verbo, mas ao substantivo aprovação, completando-lhe o sentido.