Surgidas
no século XVII, em pequenos assentamentos rurais que se formavam
espontaneamente e abrigavam negros foragidos das senzalas, índios e
mestiços, as comunidades quilombolas se tornaram uma fonte rica e
pura da cultura negra no país. Segundo o Centro de Cartografia
Aplicada e Informação Geográfica da Universidade de Brasília
(UnB), existem hoje registros de 2.842 comunidades quilombolas
espalhadas por todas as regiões do Brasil.
Maré
é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de
capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar
que atravessa várias gerações. Um filme de amor e guerra.
Este curta de ficção contém muitas informações históricas que podem ser trabalhadas em sala de aula, como a origem dos cativos africanos, sua trajetória no Brasil e sua contribuição para a formação de nossa cultura. Além das cenas e imagens produzidas, o filme conta também com arquivos que ilustram e destacam a participação da cultura negra em nossa História, criando, assim, uma identificação e uma valorização do legado africano.
Este curta de ficção contém muitas informações históricas que podem ser trabalhadas em sala de aula, como a origem dos cativos africanos, sua trajetória no Brasil e sua contribuição para a formação de nossa cultura. Além das cenas e imagens produzidas, o filme conta também com arquivos que ilustram e destacam a participação da cultura negra em nossa História, criando, assim, uma identificação e uma valorização do legado africano.
Assim,
com k, Kalunga m foi como passaram a ser chamados todos os moradores
daquele território, depois que se descobriu, não muitos anos atrás,
que eles tinham uma mesma história comum, como iremos contar mais
adiante. Mas, escrito com c, calunga é uma palavra de muitos
sentidos, que se incorporou à língua do povo brasileiro. Quer dizer
coisa pequena e insignificante, como o ratinho camundongo que no
Nordeste do Brasil se chama calunga ou então catita. E quer dizer
também pessoa ilustre, importante. E também é o nome que se dá à
boneca que sai nos cortejos dos reis negros dos Maracatus de
Pernambuco.
E ainda significa a morte, o inferno, o oceano, o senhor, conforme se diz nos livros. Mas, na terra do povo Kalunga, calunga é mesmo o nome de uma plantinha (simaba ferruginea) e do lugar onde ela cresce, perto de um córrego que também tem esse mesmo nome.
Tudo isso parece estranho ou muito confuso? Pois não é, não. A gente costuma pensar que as palavras são só os nomes das coisas, mas esquece que elas circulam entre as pessoas. E, conforme vai passando o tempo, as palavras vão ficando carregadas de muitos significados que estão nas ideias das pessoas.
Kalunga é uma palavra comum entre muitos povos africanos e foi com eles que ela veio para o Brasil. Era normal por isso que os próprios africanos fossem chamados assim, calungas. Este era apenas um outro modo de dizer negros.
E como os colonizadores portugueses consideravam todos os negros inferiores, é fácil entender por que a palavra calunga, nome que eles davam aos negros, passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita do Nordeste.
Mas, quando se pensa no sentido da palavra kalunga para os próprios africanos, tudo se inverte. Entre os povos chamados congo ou angola, por exemplo, que foram dos primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, kalunga era uma palavra ligada às suas crenças religiosas.
Ela se referia ao mundo dos ancestrais. eles acreditavam que as pessoas deviam prestar culto aos seus antepassados, porque era deles que vinha a sua força. Para eles, o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio e em cada metade havia uma grande montanha.
Numa metade da roda, o pico da montanha ficava virado para cima. Mas na outra metade a montanha estava invertida, de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. De outro, a montanha de ponta cabeça representava o mundo dos mortos, terra dos ancestrais.
As duas montanhas eram separadas por um grande rio que eles chamavam de kalunga. Por isso, para eles, kalunga era o nome desse lugar de passagem, por onde os homens podiam entrar em contato com a força de seus antepassados. Já se vê assim que, se os africanos associavam a palavra kalunga à morte e ao mundo dos mortos, era de um jeito muito diferente do nosso.
Para nós, hoje em dia, o cemitério, morada dos mortos, é um lugar triste e assustador. Para eles, kalunga era o que tornava uma pessoa ilustre e importante, porque mostrava que ela tinha incorporado em sua vida a força de seus antepassados. Era assim que agiam os reis, que só governavam enquanto eram capazes de manter seu povo unido em torno dessa força comum dos antepassados.
Por isso, no cortejo dos reis e rainhas dos Maracatus, sempre foi obrigatória a presença da boneca que chamam calunga.
Ela é um símbolo da realeza africana e do poder dos ancestrais. Muitos anos foram aprisionados e trazidos para o Brasil como escravos, atravessando um grande rio, calunga grande, o mar oceano. Então, para eles, a morte passou a ter outro sentido. A morte era um sentimento. O sentimento que os escravos traziam na alma, depois de terem perdido sua liberdade.
E ainda significa a morte, o inferno, o oceano, o senhor, conforme se diz nos livros. Mas, na terra do povo Kalunga, calunga é mesmo o nome de uma plantinha (simaba ferruginea) e do lugar onde ela cresce, perto de um córrego que também tem esse mesmo nome.
Tudo isso parece estranho ou muito confuso? Pois não é, não. A gente costuma pensar que as palavras são só os nomes das coisas, mas esquece que elas circulam entre as pessoas. E, conforme vai passando o tempo, as palavras vão ficando carregadas de muitos significados que estão nas ideias das pessoas.
Kalunga é uma palavra comum entre muitos povos africanos e foi com eles que ela veio para o Brasil. Era normal por isso que os próprios africanos fossem chamados assim, calungas. Este era apenas um outro modo de dizer negros.
E como os colonizadores portugueses consideravam todos os negros inferiores, é fácil entender por que a palavra calunga, nome que eles davam aos negros, passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita do Nordeste.
Mas, quando se pensa no sentido da palavra kalunga para os próprios africanos, tudo se inverte. Entre os povos chamados congo ou angola, por exemplo, que foram dos primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, kalunga era uma palavra ligada às suas crenças religiosas.
Ela se referia ao mundo dos ancestrais. eles acreditavam que as pessoas deviam prestar culto aos seus antepassados, porque era deles que vinha a sua força. Para eles, o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio e em cada metade havia uma grande montanha.
Numa metade da roda, o pico da montanha ficava virado para cima. Mas na outra metade a montanha estava invertida, de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. De outro, a montanha de ponta cabeça representava o mundo dos mortos, terra dos ancestrais.
As duas montanhas eram separadas por um grande rio que eles chamavam de kalunga. Por isso, para eles, kalunga era o nome desse lugar de passagem, por onde os homens podiam entrar em contato com a força de seus antepassados. Já se vê assim que, se os africanos associavam a palavra kalunga à morte e ao mundo dos mortos, era de um jeito muito diferente do nosso.
Para nós, hoje em dia, o cemitério, morada dos mortos, é um lugar triste e assustador. Para eles, kalunga era o que tornava uma pessoa ilustre e importante, porque mostrava que ela tinha incorporado em sua vida a força de seus antepassados. Era assim que agiam os reis, que só governavam enquanto eram capazes de manter seu povo unido em torno dessa força comum dos antepassados.
Por isso, no cortejo dos reis e rainhas dos Maracatus, sempre foi obrigatória a presença da boneca que chamam calunga.
Ela é um símbolo da realeza africana e do poder dos ancestrais. Muitos anos foram aprisionados e trazidos para o Brasil como escravos, atravessando um grande rio, calunga grande, o mar oceano. Então, para eles, a morte passou a ter outro sentido. A morte era um sentimento. O sentimento que os escravos traziam na alma, depois de terem perdido sua liberdade.
E
são os bandeirantes e os quilombos que nos fazem chegar mais perto
da origem do povo Kalunga. Porque o território Kalunga no começo
também foi um quilombo, que surgiu na época em que os bandeirantes
paulistas chegaram até as terras de Goiás. Foi no final do século
XVII e começo do século XVIII que os bandeirantes finalmente
conseguiram realizar o sonho de encontrar ouro nas terras do interior
do Brasil. O ouro que buscavam existia, sim, e em tal quantidade que
as terras onde foi descoberto passaram a ser chamadas de Minas
Gerais. A febre do ouro tomou conta de todo mundo. Como nas terras da
América controladas pela Espanha, também no Brasil agora era
possível enriquecer, muito e depressa. Tanto assim que quase metade
da população de Portugal se mudou para as Minas Gerais. E então
ali começaram a crescer rapidamente arraiais e vilas que logo se
transformaram em cidades, com muitos sobrados e igrejas. Um desses
arraiais onde mais se encontrava ouro passou a ser tão importante
que logo foi chamado de Vila Rica e é hoje a cidade de Ouro Preto. E
é claro que onde havia tanta riqueza a explorar também eram
precisos muitos escravos. Como no tempo da cana-de-açúcar, também
agora os escravos que faziam todo o trabalho da mineração. Dia e
noite cavavam as beiras dos rios e ribeirões, com os pés e as
pernas dentro da água, tirando o cascalho misturado com as preciosas
pepitas de ouro que era preciso separar. Muitos outros viviam a maior
parte do tempo na escuridão, trabalhando nas minas que precisavam
cavar cada vez mais fundo, para tirar o ouro de dentro da terra. E
ainda se encarregavam de todos os demais trabalhos que era preciso
fazer nas cidades, exercendo todo tipo de ofício. As mais belas
igrejas que existem nas cidades de Minas Gerais foram construídas
com o trabalho dos escravos. E o mais importante escultor do Brasil,
que vivia em Vila Rica nessa época e era conhecido como Aleijadinho,
foi um mestiço, filho de uma negra e de um mestre de obras
português. Mas a ambição dos bandeirantes não se contentava com
as riquezas das Minas Gerais. Se ali havia tanto ouro, não haveria
ainda muito mais, por aquelas outras terras do sertão?
Foi assim que, subindo e descendo serras, entrando por dentro do
mato, avançando pelo cerrado, em 1722, o bandeirante Bartolomeu
Bueno da Silva, juntamente com João Leite da Silva Ortiz, chegou
àquelas terras que iriam ser chamadas de "minas dos Goiases".
Este era o nome de um povo indígena que vivia naquela região, onde
havia muito ouro. Foi a partir de então que ali começou a
exploração das minas. Atrás do ouro tinham vindo os bandeirantes e
atrás deles viriam os mineradores com seus escravos. É aqui que
começa de verdade a história do povo Kalunga.
O
povo Kalunga é uma comunidade de negros originalmente formados por
descendentes de escravos que fugiram do cativeiro e organizaram um
quilombo, há muito tempo atrás, num dos lugares mais bonitos do
Brasil, a região da Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás. Toda
a área que eles ocupam foi reconhecida oficialmente em 1991 pelo
governo do Estado de Goiás como Sítio
Histórico que abriga o Património Cultural Kalunga, parte essencial do património histórico e cultural brasileiro.
Esta história começa lá longe no tempo, há mais de duzentos anos. Foi quando o território que é hoje o Estado de Goiás começou a ser conquistado pelos colonizadores portugueses. Aquele era um tempo dominado pela febre do ouro e os escravos sofriam muito no cativeiro. Mas para entender como tudo isso aconteceu, nós temos que voltar ainda mais para trás na história, para os tempos do começo da história do Brasil.
Histórico que abriga o Património Cultural Kalunga, parte essencial do património histórico e cultural brasileiro.
Esta história começa lá longe no tempo, há mais de duzentos anos. Foi quando o território que é hoje o Estado de Goiás começou a ser conquistado pelos colonizadores portugueses. Aquele era um tempo dominado pela febre do ouro e os escravos sofriam muito no cativeiro. Mas para entender como tudo isso aconteceu, nós temos que voltar ainda mais para trás na história, para os tempos do começo da história do Brasil.
A
legislação educacional brasileira permite que educadoras e
educadores atuem paraminimizar as desigualdades étnico-raciais nos
espaços educacionais. Inicialmente com osTemas Transversais e um
exercício de boa vontade e de consciência política,
algunseducadores já abordavam as desigualdades étnico-raciais
presentes na sociedade brasileira apartir dos pressupostos do tema da
“Pluralidade Cultural”. Desde 2003, a Lei n. 10.639/2003,que
altera a LDB estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, permite uma ação
mais contundente para valorização dacultura negra brasileira e
africana. Para subsidiar esse exercício de promoção de
cidadaniaplena de todos e todas, é preciso compreender
(...) a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos edeveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmorespeito (Brasil, Secretaria de Educação Fundamental, 1998, p.7).
É importante lembrar que ações afirmativas são importantes para a garantia de uma sociedadedemocrática. Contudo, muitas são as resistências às políticas públicas educacionais dirigidaspara a população afro-brasileira. É preciso superar o baixo preparo de gestores e gestoras notrato dos problemas sociais brasileiros e, em especial, aqueles relacionados com os chamados excluídos sociais – negros, quilombolas, mulheres, indígenas, deficientes físicos, pessoas comorientações sexuais diferenciadas e outros – para que a eqüidade racial e de gênero estejam defato corporificadas na nossa sociedade.
(...) a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos edeveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmorespeito (Brasil, Secretaria de Educação Fundamental, 1998, p.7).
É importante lembrar que ações afirmativas são importantes para a garantia de uma sociedadedemocrática. Contudo, muitas são as resistências às políticas públicas educacionais dirigidaspara a população afro-brasileira. É preciso superar o baixo preparo de gestores e gestoras notrato dos problemas sociais brasileiros e, em especial, aqueles relacionados com os chamados excluídos sociais – negros, quilombolas, mulheres, indígenas, deficientes físicos, pessoas comorientações sexuais diferenciadas e outros – para que a eqüidade racial e de gênero estejam defato corporificadas na nossa sociedade.
A
escola tem um papel fundamental para os moradores dos quilombos
contemporâneos, mas eles desejam uma escola sua, da comunidade, onde
suas diferenças sejam respeitadas.
A grande diferença que se deve destacar entre a transmissão do saber nas comunidades negras rurais e nas escolas é que, no primeiro caso, o processo, fruto da socialização, desenvolve-se de forma natural e não formal e, no segundo, o saber nem sempre está referenciado na experiência do aluno.
A educação é um instrumento privilegiado para formar cidadãos capazes de conhecer e compreender, para saber discernir e, se necessário, mudar a sociedade em que vivem. Atentar para a composição multicultural do povo brasileiro é condição essencial quando se tem por objetivo formar alunos e professores para o exercício da cidadania.
A grande diferença que se deve destacar entre a transmissão do saber nas comunidades negras rurais e nas escolas é que, no primeiro caso, o processo, fruto da socialização, desenvolve-se de forma natural e não formal e, no segundo, o saber nem sempre está referenciado na experiência do aluno.
A educação é um instrumento privilegiado para formar cidadãos capazes de conhecer e compreender, para saber discernir e, se necessário, mudar a sociedade em que vivem. Atentar para a composição multicultural do povo brasileiro é condição essencial quando se tem por objetivo formar alunos e professores para o exercício da cidadania.
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