domingo, 19 de outubro de 2014

PLURALIDADE CULTURAL - REGIÃO SUDESTE

Cultura da Região Sudeste


Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo são os estados que integram a região Sudeste do Brasil. As manifestações culturais são muito diversificadas, com grandes influências dos povos indígenas, africanos, europeus e asiáticos.

Entre os vários elementos da cultura do Sudeste, estão:

Carnaval – festa popular comemorada em todo o Brasil. No Rio de Janeiro é realizado o carnaval mais famoso do mundo, e atrai turistas brasileiros e estrangeiros para prestigiarem os desfiles das escolas de samba.

Desfile de escolas de samba no carnaval

Batuque – dança africana que representa um ritual de fertilidade, sendo difundida nas cidades do interior paulista. A dança é realizada através de uma fileira de homens que fica a 15 metros de distância das mulheres, e, ao iniciar o ritual, os homens e as mulheres dão a “umbigada”, ou seja, o ventre da mulher bate na barriga do homem.


Samba de Lenço – é considerado o ancestral do samba cosmopolita. A utilização do lenço é uma forma de devoção a São Benedito. Apresenta aspectos similares ao jongo e o batuque. Sua dança é de origem africana, podendo ser praticada tanto no meio urbano (samba de salão) quanto na zona rural (samba de roda, samba campineiro e samba de lenço).


Folia de Reis ou Reisado – folguedo que ocorre no período do natal, de 24 de dezembro a 6 de janeiro, dia dedicado aos Santos Reis. A formação das folias difere-se conforme o lugar, normalmente são grupos de rapazes que realizam uma cantoria. Os instrumentos utilizados são: cavaquinho, violão, pandeiro, pistão e tantã. É um costume de origem portuguesa em comemoração à festa do Divino ou dos Reis Magos.

Folia de Reis

Congada – a congada consiste na luta do Bem contra o Mal. O Bem é representado pelos cristãos, o Mal é o grupo de mouros. O Bem usa roupa azul, e o mal, vermelha. Há lutas, embaixadas, cantos, e sempre os cristãos vencem os mouros, que são batizados. E, todos juntos, fazem a festa em louvor a São Benedito, padroeiro dos negros em todo o Brasil.

Ticumbi – consiste numa vertente da congada, praticada somente no Espírito Santo. São negros com trajes brancos e fitas coloridas. É uma manifestação guerreira dramática.

Dança de São Gonçalo – dança de origem portuguesa. É composta por duas fileiras, uma de homens e outra de mulheres, na qual as moças se vestem de branco, rosa ou azul. Cada fileira é encabeçada por dois violeiros que ditam o ritmo da dança. Os dançarinos ficam dando “voltas” que recebem nomes especiais, como marca passo, parafuso e casamento.

Festa de Iemanjá – muito popular no Nordeste, em especial na Bahia, a Festa de Iemanjá é uma homenagem à principal entidade feminina do Candomblé, Umbanda e Macumba. Nessa manifestação cultural os devotos levam presentes (perfumes, bebidas flores, etc.) para a Rainha do Mar.

Festa de Iemanjá

A culinária do Sudeste brasileiro é bem diversificada, e apresenta elementos da culinária indígena, dos escravos africanos e dos imigrantes europeus e asiáticos. Entre os principais pratos típicos da região estão: feijoada, feijão-tropeiro, farofa, cuscuz paulista, pizza, moqueca capixaba, angu, frango com quiabo, pão de queijo, cachaça de alambique, entre outros.



QUILOMBOLAS





Surgidas no século XVII, em pequenos assentamentos rurais que se formavam espontaneamente e abrigavam negros foragidos das senzalas, índios e mestiços, as comunidades quilombolas se tornaram uma fonte rica e pura da cultura negra no país. Segundo o Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica da Universidade de Brasília (UnB), existem hoje registros de 2.842 comunidades quilombolas espalhadas por todas as regiões do Brasil.








Maré é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações. Um filme de amor e guerra.
Este curta de ficção contém muitas informações históricas que podem ser trabalhadas em sala de aula, como a origem dos cativos africanos, sua trajetória no Brasil e sua contribuição para a formação de nossa cultura. Além das cenas e imagens produzidas, o filme conta também com arquivos que ilustram e destacam a participação da cultura negra em nossa História, criando, assim, uma identificação e uma valorização do legado africano.
Assim, com k, Kalunga m foi como passaram a ser chamados todos os moradores daquele território, depois que se descobriu, não muitos anos atrás, que eles tinham uma mesma história comum, como iremos contar mais adiante. Mas, escrito com c, calunga é uma palavra de muitos sentidos, que se incorporou à língua do povo brasileiro. Quer dizer coisa pequena e insignificante, como o ratinho camundongo que no Nordeste do Brasil se chama calunga ou então catita. E quer dizer também pessoa ilustre, importante. E também é o nome que se dá à boneca que sai nos cortejos dos reis negros dos Maracatus de Pernambuco.
E ainda significa a morte, o inferno, o oceano, o senhor, conforme se diz nos livros. Mas, na terra do povo Kalunga, calunga é mesmo o nome de uma plantinha (simaba ferruginea) e do lugar onde ela cresce, perto de um córrego que também tem esse mesmo nome.
Tudo isso parece estranho ou muito confuso? Pois não é, não. A gente costuma pensar que as palavras são só os nomes das coisas, mas esquece que elas circulam entre as pessoas. E, conforme vai passando o tempo, as palavras vão ficando carregadas de muitos significados que estão nas ideias das pessoas.
Kalunga é uma palavra comum entre muitos povos africanos e foi com eles que ela veio para o Brasil. Era normal por isso que os próprios africanos fossem chamados assim, calungas. Este era apenas um outro modo de dizer negros.
E como os colonizadores portugueses consideravam todos os negros inferiores, é fácil entender por que a palavra calunga, nome que eles davam aos negros, passou a querer dizer também coisa pequena e insignificante, como o camundongo catita do Nordeste.
Mas, quando se pensa no sentido da palavra kalunga para os próprios africanos, tudo se inverte. Entre os povos chamados congo ou angola, por exemplo, que foram dos primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, kalunga era uma palavra ligada às suas crenças religiosas.
Ela se referia ao mundo dos ancestrais. eles acreditavam que as pessoas deviam prestar culto aos seus antepassados, porque era deles que vinha a sua força. Para eles, o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio e em cada metade havia uma grande montanha.
Numa metade da roda, o pico da montanha ficava virado para cima. Mas na outra metade a montanha estava invertida, de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. De outro, a montanha de ponta cabeça representava o mundo dos mortos, terra dos ancestrais.
As duas montanhas eram separadas por um grande rio que eles chamavam de kalunga. Por isso, para eles, kalunga era o nome desse lugar de passagem, por onde os homens podiam entrar em contato com a força de seus antepassados. Já se vê assim que, se os africanos associavam a palavra kalunga à morte e ao mundo dos mortos, era de um jeito muito diferente do nosso.
Para nós, hoje em dia, o cemitério, morada dos mortos, é um lugar triste e assustador. Para eles, kalunga era o que tornava uma pessoa ilustre e importante, porque mostrava que ela tinha incorporado em sua vida a força de seus antepassados. Era assim que agiam os reis, que só governavam enquanto eram capazes de manter seu povo unido em torno dessa força comum dos antepassados.
Por isso, no cortejo dos reis e rainhas dos Maracatus, sempre foi obrigatória a presença da boneca que chamam calunga.
Ela é um símbolo da realeza africana e do poder dos ancestrais. Muitos anos foram aprisionados e trazidos para o Brasil como escravos, atravessando um grande rio, calunga grande, o mar oceano. Então, para eles, a morte passou a ter outro sentido. A morte era um sentimento. O sentimento que os escravos traziam na alma, depois de terem perdido sua liberdade.
E são os bandeirantes e os quilombos que nos fazem chegar mais perto da origem do povo Kalunga. Porque o território Kalunga no começo também foi um quilombo, que surgiu na época em que os bandeirantes paulistas chegaram até as terras de Goiás. Foi no final do século XVII e começo do século XVIII que os bandeirantes finalmente conseguiram realizar o sonho de encontrar ouro nas terras do interior do Brasil. O ouro que buscavam existia, sim, e em tal quantidade que as terras onde foi descoberto passaram a ser chamadas de Minas Gerais. A febre do ouro tomou conta de todo mundo. Como nas terras da América controladas pela Espanha, também no Brasil agora era possível enriquecer, muito e depressa. Tanto assim que quase metade da população de Portugal se mudou para as Minas Gerais. E então ali começaram a crescer rapidamente arraiais e vilas que logo se transformaram em cidades, com muitos sobrados e igrejas. Um desses arraiais onde mais se encontrava ouro passou a ser tão importante que logo foi chamado de Vila Rica e é hoje a cidade de Ouro Preto. E é claro que onde havia tanta riqueza a explorar também eram precisos muitos escravos. Como no tempo da cana-de-açúcar, também agora os escravos que faziam todo o trabalho da mineração. Dia e noite cavavam as beiras dos rios e ribeirões, com os pés e as pernas dentro da água, tirando o cascalho misturado com as preciosas pepitas de ouro que era preciso separar. Muitos outros viviam a maior parte do tempo na escuridão, trabalhando nas minas que precisavam cavar cada vez mais fundo, para tirar o ouro de dentro da terra. E ainda se encarregavam de todos os demais trabalhos que era preciso fazer nas cidades, exercendo todo tipo de ofício. As mais belas igrejas que existem nas cidades de Minas Gerais foram construídas com o trabalho dos escravos. E o mais importante escultor do Brasil, que vivia em Vila Rica nessa época e era conhecido como Aleijadinho, foi um mestiço, filho de uma negra e de um mestre de obras português. Mas a ambição dos bandeirantes não se contentava com as riquezas das Minas Gerais. Se ali havia tanto ouro, não haveria ainda muito mais, por aquelas outras terras do sertão? 
Foi assim que, subindo e descendo serras, entrando por dentro do mato, avançando pelo cerrado, em 1722, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, juntamente com João Leite da Silva Ortiz, chegou àquelas terras que iriam ser chamadas de "minas dos Goiases". Este era o nome de um povo indígena que vivia naquela região, onde havia muito ouro. Foi a partir de então que ali começou a exploração das minas. Atrás do ouro tinham vindo os bandeirantes e atrás deles viriam os mineradores com seus escravos. É aqui que começa de verdade a história do povo Kalunga.
O povo Kalunga é uma comunidade de negros originalmente formados por descendentes de escravos que fugiram do cativeiro e organizaram um quilombo, há muito tempo atrás, num dos lugares mais bonitos do Brasil, a região da Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás. Toda a área que eles ocupam foi reconhecida oficialmente em 1991 pelo governo do Estado de Goiás como Sítio
Histórico que abriga o Património Cultural Kalunga, parte essencial do património histórico e cultural brasileiro.
Esta história começa lá longe no tempo, há mais de duzentos anos. Foi quando o território que é hoje o Estado de Goiás começou a ser conquistado pelos colonizadores portugueses. Aquele era um tempo dominado pela febre do ouro e os escravos sofriam muito no cativeiro. Mas para entender como tudo isso aconteceu, nós temos que voltar ainda mais para trás na história, para os tempos do começo da história do Brasil.
A legislação educacional brasileira permite que educadoras e educadores atuem paraminimizar as desigualdades étnico-raciais nos espaços educacionais. Inicialmente com osTemas Transversais e um exercício de boa vontade e de consciência política, algunseducadores já abordavam as desigualdades étnico-raciais presentes na sociedade brasileira apartir dos pressupostos do tema da “Pluralidade Cultural”. Desde 2003, a Lei n. 10.639/2003,que altera a LDB estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, permite uma ação mais contundente para valorização dacultura negra brasileira e africana. Para subsidiar esse exercício de promoção de cidadaniaplena de todos e todas, é preciso compreender
(...) a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos edeveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmorespeito (Brasil, Secretaria de Educação Fundamental, 1998, p.7).
É importante lembrar que ações afirmativas são importantes para a garantia de uma sociedadedemocrática. Contudo, muitas são as resistências às políticas públicas educacionais dirigidaspara a população afro-brasileira. É preciso superar o baixo preparo de gestores e gestoras notrato dos problemas sociais brasileiros e, em especial, aqueles relacionados com os chamados excluídos sociais – negros, quilombolas, mulheres, indígenas, deficientes físicos, pessoas comorientações sexuais diferenciadas e outros – para que a eqüidade racial e de gênero estejam defato corporificadas na nossa sociedade.
A escola tem um papel fundamental para os moradores dos quilombos contemporâneos, mas eles desejam uma escola sua, da comunidade, onde suas diferenças sejam respeitadas.
A grande diferença que se deve destacar entre a transmissão do saber nas comunidades negras rurais e nas escolas é que, no primeiro caso, o processo, fruto da socialização, desenvolve-se de forma natural e não formal e, no segundo, o saber nem sempre está referenciado na experiência do aluno.
A educação é um instrumento privilegiado para formar cidadãos capazes de conhecer e compreender, para saber discernir e, se necessário, mudar a sociedade em que vivem. Atentar para a composição multicultural do povo brasileiro é condição essencial quando se tem por objetivo formar alunos e professores para o exercício da cidadania.



domingo, 5 de outubro de 2014

PLURALIDADE CULTURAL - REGIÃO CENTRO OESTE

Cultura da Região Centro-Oeste
A região Centro-Oeste é composta pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal. Sua cultura é bem diversificada, com elementos da cultura indígena, dos imigrantes paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios.

As principais manifestações culturais no estado de Goiás são: a Procissão do Fogaréu e as Cavalhadas.

A Procissão do Fogaréu ocorre na cidade de Goiás durante as comemorações da Páscoa, realizadas na quarta-feira da Semana Santa. Esse evento simboliza a busca e a prisão de Cristo. Atrai aproximadamente 10 mil turistas, sendo o único lugar do Brasil que realiza essa manifestação cultural.

Em Pirenópolis, ocorre uma das mais significativas Cavalhadas do Brasil, é uma apresentação teatral ao ar livre que representa uma batalha medieval entre cavalheiros cristãos (vestidos de azul) e cavalheiros mouros (vestidos de vermelho). Essa é uma das principais atrações turísticas da Festa do Divino de Pirenópolis.

Cavalhadas em Pirenópolis

Outro elemento da cultura goiana é o tear manual, que em muitos lugares tornou-se peça de museu. No entanto, em alguns municípios goianos ainda são encontradas tecelãs confeccionando várias peças de tecido, agora valorizadas pelo turismo.
A culinária destaca-se pelos pratos típicos, como a galinhada com pequi e guariroba, o empadão goiano e os diversos frutos do cerrado.

O Mato Grosso apresenta como manifestação cultural o cururu, que pode ser dançado ou em forma de desafio entre violeiros. A dança é realizada somente por homens em círculos, ao som da viola de cocho, o reco-reco e o ganzá. Já os desafios são feitos por dois repentistas, e o tempo é determinado pelo público. É um evento realizado, principalmente, durante as festas do Divino e de São Benedito.

Cururu

Outros elementos da pluralidade cultural do Mato Grosso são: Siriri, Rasqueado Cuiabano, Viola-de-Cocho.

Destacam-se como elementos da culinária mato-grossense: o bolo de arroz, mojica de pintado, Maria Isael e farofa de banana.

O artesanato é bem diversificado, destacam-se os objetos produzidos através da cerâmica, as redes bordadas, as bolsas elaboradas com capim-dourado, a viola-de-cocho, entre outros.


Os elementos culturais do Mato Grosso do Sul apresentam grande semelhança com os do Mato Grosso. Destacam-se as danças, como o cururu, siriri e guarânia. As festas juninas são comemoradas com apresentações de quadrilhas, numa tentativa de resgate folclórico.

A culinária recebe bastante influência do Paraguai, desse país vem o gosto pelo mate gelado, ou tererê. Também de influência paraguaia, são as chipas (espécie de pão de queijo) e a sopa paraguaia. De origem boliviana, as salteñas, pastéis assados e recheados com frango, são outro prato de grande importância da culinária estadual. Destacam-se também na culinária local: o arroz carreteiro com guariroba, pamonha de milho verde e os pratos à base de peixes.

Arroz carreteiro

O Distrito Federal tem sua população composta por imigrantes de todas as regiões do Brasil, esse fato interfere diretamente na sua construção cultural. Apresenta grande diversidade na culinária, sotaques, costumes, comidas típicas e músicas. São principalmente nordestinos, goianos, mineiros e paulistas, os responsáveis pela caracterização cultural do Distrito Federal.





PLURALIDADE CULTURAL - REGIÃO NORTE

Cultura da Região Norte
Os estados que compõem a região Norte do Brasil são: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Essa é a maior região brasileira em extensão territorial (3.853.397,2 km²), corresponde a aproximadamente 42% do território nacional e seu contingente populacional é de 15 milhões de habitantes, composto por indígenas e imigrantes: gaúchos, paranaenses, paulistas, nordestinos, africanos, europeus e asiáticos.

Todos esses fatores contribuem para a pluralidade cultural, composta por diversas danças, crenças, comidas, festas, dentre outros aspectos que integram a cultura de um povo.

Os índios realizam inúmeros rituais, cada tribo expressa sua crença e tradição, havendo diferenciação nos elementos culturais. Em suas celebrações, os índios normalmente, se pintam e usam vários acessórios, por motivos de vaidade ou questões religiosas.

Celebração indígena

O Círio de Nazaré é uma das maiores e mais belas procissões católicas realizadas no Brasil e no mundo. Reúne, anualmente, cerca de dois milhões de romeiros numa caminhada de fé pelas ruas da cidade de Belém, capital do estado do Pará, ato representado por um grandioso espetáculo em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, a mãe de Jesus.

A Festa do Divino é de origem portuguesa. Uma da mais cultuadas em Rondônia, reúne centenas de fiéis nos meses de abril, maio e junho, proporcionando um belo espetáculo. Os festejos iniciam-se após a quaresma, com a saída da bandeira do Divino. A bandeira é vermelha e possui uma pomba branca, além de várias fitas coloridas.

Jerusalém da Amazônia é a segunda maior cidade cenográfica do mundo, onde se encena a Paixão de Cristo durante a Semana Santa. Esse é outro evento cultural de fundamental importância, realizado na região Norte.

A Folia de Reis é uma manifestação cultural muito comum nos estados que compõem a referida região, na qual se comemora o nascimento de Jesus Cristo, encenando a visita dos três Reis Magos à gruta de Belém para adorar o Menino-Deus. Dados relacionados a essa festa, afirmam que sua origem é portuguesa e tinha um caráter de diversão, simbolizando a comemoração do nascimento de Cristo.

Os Três Reis Magos

Na cidade de Taguatinga, localizada no sul do estado do Tocantins, as Cavalhadas acontecem durante a festa de Nossa Senhora da Abadia, nos dias 12 e 13 de agosto. O ritual inicia-se com a benção do sacerdote aos cavalheiros, juntamente com a entrega das lanças usadas nos treinamentos para a batalha ao imperador, simbolizando que estes estão preparados para se apresentar em louvor a Nossa Senhora da Abadia e em honra ao imperador. É a representação de uma batalha de cunho religioso entre mouros e cristãos, na qual estes últimos acabam vencendo, e ocorre a submissão dos mouros ao cristianismo.

O Congo ou Congada é uma manifestação cultural de origem africana, mas com influência ibérica no que se refere à religiosidade. É popular em toda a região Norte do Brasil, durante o Natal e nas festividades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
A congada é a representação da coroação do rei e da rainha, eleitos pelos escravos, e da chegada da embaixada, que motiva a luta entre o partido do rei e do embaixador. Vence o rei, perdoa-se o embaixador. O término ocorre na igreja com a realização do batizado dos infiéis.

O Boi-Bumbá é uma vertente do Bumba Meu Boi, muito praticado no Brasil. É uma das mais antigas formas de distração popular. Foi introduzido pelos colonizadores europeus, correspondendo à primeira expressão de teatro popular brasileiro.
O Festival de Parintins é um dos maiores responsáveis pela divulgação cultural do Boi-Bumbá, realizado desde 1913. No Bumbódromo apresentam-se as agremiações Boi Garantido (vermelho) e o Boi Caprichoso (azul), sendo destinadas a elas três horas para cada apresentação. São três noites de apresentação, nas quais são abordados, através das alegorias e encenações, aspectos regionais, como: lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos. Anualmente, aproximadamente 35 mil pessoas prestigiam essa manifestação cultural.

Festival de Parintins

O artesanato no Norte é bem diversificado e os trabalhos são produzidos com fibras, coquinhos, cerâmica, pedra-sabão, barro, couro, madeira, látex, entre outros. São produzidos bichos, colares, pulseiras, brincos, cestarias, potes, etc.

Destacam-se os trabalhos artesanais indígenas, muito utilizados como enfeites, para compor a indumentária usada nos rituais e também para a produção de utensílios domésticos e na comercialização. Os Karajás são excelentes artesãos da arte plumária e cerâmica. Os Akwe (Xerente) são considerados o povo do trançado (cestaria) e os Timbiras (Apinajé e Krahô), são especialistas na arte dos trançados e artefatos de sementes nativas do cerrado.

O capim dourado é muito utilizado pelos artesãos tocantinenses, é uma planta exclusiva do estado, sendo mais comum no Jalapão. Na produção dos artesanatos são feitas bolsas, potes, pulseiras, brincos, mandalas, chapéus, enfeites e suplast. Hoje são confeccionados aproximadamente 50 tipos de produtos, com uma característica peculiar - todos com formatos arredondados porque a fibra não permite ser dobrada.

Artesanato realizado com capim dourado

A culinária é influenciada pela cultura indígena, baseada na mandioca e em peixes. A carne de sol é bastante consumida pela população. Nas cidades de Belém e em Manaus, o tacacá é tomado direto na cuia indígena, espécie de sopa quente feita com tucupi, goma de mandioca, jambu (um tipo de erva), camarão seco e pimenta de cheiro. O tucupi é um caldo da mandioca cozida e espremida no tipiti (peneira indígena), que acompanha o típico pato ao tucupi, do Pará. Outros elementos da culinária nortista são: tapioca, farofas, canjica, mingau, mundico-e-zefinha (doce de cupuaçu com queijo de Marajó, feito com o leite de búfala), ariá (espécie de rabanete), etc.



PLURALIDADE CULTURAL - REGIÃO SUL

Cultura da Região Sul
Fortemente influenciada pela cultura dos imigrantes europeus, a região Sul do Brasil apresenta grande pluralidade cultural. Os estados integrantes são: o Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Os imigrantes europeus começaram a chegar ao fim do século XIX e contribuíram para o desenvolvimento econômico da região, baseado na pequena propriedade rural de policultura.

Essa região apresenta elementos culturais dos índios (primeiros ocupantes do território), espanhóis e portugueses (colonizadores), negros (escravos). Posteriormente, os imigrantes alemães, italianos, açorianos, eslavos, japoneses, entre outros, contribuíram para a diversidade cultural do Sul do Brasil.

Entre as manifestações culturais dessa região estão:

Rio Grande do Sul
Os gaúchos dos pampas, ou das cidades, formam um povo rico em tradições. Grande parte dos seus aspectos culturais é oriunda dos imigrantes alemães, que habitaram a região por volta de 1824. Os italianos, espanhóis e portugueses também contribuíram para a riqueza cultural desse estado.

Entre as principais características culturais do gaúcho estão: a bombacha, o lenço, o poncho, e o chimarrão.

Chimarrão



A festa de Nossa Senhora dos Navegantes, de origem portuguesa, é realizada em Porto Alegre no dia 2 de fevereiro, no rio Guaíba, onde centenas de barcos e milhares de fiéis devotos participam da procissão fluvial.
Algumas cidades do Sul celebram as tradições dos antepassados em festas típicas, como a Festa da Uva, em Caxias do Sul (RS).
Paraná
Apresenta aspectos culturais dos imigrantes alemães, italianos, poloneses, ucranianos, holandeses, etc. Eles influenciaram fortemente a cultura do estado.

As principais festas culturais do Paraná são: cavalhada, congada, dança ou fandango de São Gonçalo, festa da cerejeira, festa do Divino, coroação de Nossa Senhora, festa de São Benedito, entre outras.

Um dos pratos típicos do Paraná é o barreado, um cozido de carne, prato caboclo típico do litoral. Ele é preparado com carne bovina, toucinho e temperos colocados em uma panela de barro. Ela é enterrada e acende-se por cima, uma fogueira. Após 12 horas de cozimento, a iguaria está pronta.

Barreado   
Santa Catarina


Em Santa Catarina há uma grande quantidade de casas com arquitetura tipicamente europeia, além da arquitetura, os imigrantes do velho continente contribuíram na cultura vinhateira, na triticultura (cultura com trigo), linho, algodão, cânhamo e mandioca.

Alguns eventos culturais são marcantes, e mobilizam várias pessoas. O boi-de-mamão, por exemplo, vai do Natal ao Carnaval. Começa com as prendas e pedidos de ajuda e termina com a morte e ressurreição do boi.

A Oktoberfest, em Blumenau (SC), é uma festa de origem alemã, tradicional festa da cerveja. Esse evento atrai milhares de turistas.

Oktoberfest

Outro elemento da cultura de Santa Catarina é a dança de fitas, uma tradição milenar, o qual consiste num pau de fita, cujo mastro é sustentado no centro da dança por um menino. Da ponta do mastro saem pares de fita, cujas figurações se atém ao ato de trançá-las, girando e dançando em torno do mastro central.

Em Santa Catarina o boi na vara ainda é praticado, sendo uma espécie de tourada. O boi, preso a uma vara com corda, investe num boneco até o esgotamento. Outras vezes, soltam os animais e os homens saem correndo, derrubam o boi e despedaçam-no.



PLURALIDADE CULTURAL - PRECONCEITO MUSICAL

Ritmos como o funk e o tecnobrega despontam como vanguardas musicais mas enfrentam tensões sociais
Por Ariane Alves (arianecamilo.alves@gmail.com), Marcelo Grava (marcelo.grava@gmail.com) eWilliam Nunes (willnunes94@gmail.com)
Há quem diga, embriagado pelo complexo de vira-lata que Nelson Rodrigues apresentou ao mundo, que o conhecimento do Brasil em países estrangeiros se resume a samba e futebol. Muito embora este lugar-comum esteja ultrapassado em tempos de globalização e crescimento econômico, a importância do samba enquanto produto de exportação e referência musical em todo o planeta é factual. Entretanto, a escalada do gênero até o patamar internacional aconteceu de forma diferenciada à sua disseminação em território nacional, onde o ritmo enfrentou forte discriminação.
Quando se procura desenhar o panorama da formação cultural do Brasil, palavras como “diversidade” e “miscigenação” são frequentemente usadas para retratar a ampla confluência de etnias, credos e infindáveis culturas que acompanhou a ocupação do território nacional por indígenas, portugueses, africanos e milhões de imigrantes de toda parte do mundo. O samba nasceu de uma dessas misturas, no início do século XX, oriundo de diversas manifestações culturais africanas que os escravos trouxeram consigo ao Rio de Janeiro.
Abraçar o argumento da diversidade sem analisar a fundo nosso cenário cultural, entretanto, é um equívoco. Gêneros musicais que, como o samba há mais de cem anos, disseminam-se entre as classes menos abastadas são envoltos em um preconceito social – embasado em questões morais – que, por vezes, nada tem a ver com qualidade ou prestígio. Neste panorama, o funk e o tecnobrega hoje despontam como vanguardas musicais no exterior enquanto lutam para ser aceitos no Brasil.
O baile todo
Dos morros de onde o samba começou a reverberar, hoje se ouve o funk, o pagode e os “ritmos de ostentação”. Ao longo de um território brasileiro muito mais descentralizado econômica e culturalmente, porém, regiões outrora “isoladas” servem de berço para as novas vanguardas. Mistura de ritmos locais como o caribó e o calypso com a temática “brega”, o tecnobrega nasceu no Pará e se espalhou país afora ao longo da década de 2000. Hoje despontando no mainstream com expoentes como Gaby Amarantos e o grupo Gang do Eletro, o ritmo já emplacou música-tema de novela, colecionou honrarias nacionais e internacionais (como uma indicação de Amarantos ao Grammy Latino) e ganha espaço em programações de festivais estrangeiros, como o “caçador de talentos”South by Southwest, realizado anualmente em Austin, no estado norte-americano do Texas.
Por situação parecida passou o funk carioca, há cerca de dez anos. Totalmente distinto do ritmo homônimo surgido nos Estados Unidos em meados dos anos 60, misturando ritmos como jazz, soul erhythm and blues e tendo em James Brown seu principal símbolo, o popular “pancadão” das favelas foi herdeiro do miami bass e adequou a seu repertório elementos de freestyle, tornando-se conhecido internacionalmente, para efeitos de diferenciação, como “baile funk”. Mais sobre a história deste gênero pode ser conferida em outra reportagem da JPress, publicada em outubro de 2012.



A Gang do Eletro levou sua mistura rítmica ao conceituado festival SXSW, em fevereiro. (Foto: divulgação/Diana Figueroa)
Já o pagode, ramificação do samba bastante disseminado em festas de fundos de quintais no Rio de Janeiro (das quais o estilo herdou o nome), popularizou-se entre as décadas de 80 e 90 através de “figurões” como Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, ganhando em seguida uma visibilidade sem precedentes através de grupos como o Raça Negra, o Exaltasamba e o Art Popular. Com letras carregadas de romantismo e herdando elementos de gêneros aparentemente distantes como o rock e a MPB, o pagode dos anos 90 merece um capítulo à parte na história musical brasileira, devido às marcas deixadas não só no mainstream, mas no imaginário de centenas de artistas que hoje despontam no cenário.
Embora dotados de sonoridades díspares, estes ritmos compartilham situações semelhantes não apenas entre si, mas com inúmeros outros movimentos, como o forró, a lambada, o sertanejo e até mesmo a tropicália. Os fatores que agregam ou segregam os estilos musicais de público e crítica se adaptam ao longo dos tempos, mas em essência são semelhantes. Fazem parte de um jogo entremainstream e underground, estética e essência e, ainda, entre elite e classes menos abastadas.
Muita treta
Ao final da década de 60, durante o regime militar, eclodiu no Brasil o movimento tropicalista, destoando das correntes musicais da época e bastante influenciado pela cultura estrangeira, sobretudo o pop norteamericano. Gilberto Gil, Caetano Veloso e a banda Os Mutantes foram alguns dos que enfrentaram críticas de uma sociedade habituada a ritmos nacionais como a MPB e a bossa nova e que foi de encontro à falta de política e à sonoridade gringa das canções do movimento. Á época, em 1967, chegou a ser organizada em São Paulo uma passeata contra a guitarra elétrica, instrumento considerado símbolo do imperialismo e disseminado entre os “traidores” tropicalistas. Na realidade, o protesto foi dotado de mais profundidade e ambiguidade do que sugere, envolvendo diferentes correntes musicais. O próprio Gilberto Gil esteve presente na passeata, embora com o intuito de apoiar a amiga e parceira Elis Regina.

Dylan, durante o polêmico “show da guitarra elétrica”, em 1965 (Foto: Divulgação)
Dois anos antes, outro episódio famoso envolvendo a guitarra elétrica ocorreu no tradicional Newport Folk Festival, em Rhode Island, Estados Unidos. No show mais simbólico de sua carreira, o cantor e compositor Bob Dylan foi vaiado por grande parte de sua audiência, que criticava o maior expoente do folk por usar uma guitarra elétrica em sua performance, em contrapartida à tradicional instrumentação acústica, com violão e gaita. O episódio mostra que, embora a intolerância inicial com o samba e a tropicália sejam semelhantes aos problemas atuais no Brasil, o preconceito não é característica exclusivamente nacional, e sim um incômodo natural diante do diferente, do estranho, do novo.
A discriminação sobre os ritmos mais recentes, como o funk e o tecnobrega, não são muito diferentes, mas carregam também um amplo fator social. No caso do pancadão carioca, a estrutura lírica ainda contribui para este distanciamento. “O funk tem sim letras ‘proibidonas’, sexistas e machistas, mas a pessoa sequer ouve o funk menos agressivo e já iguala tudo no ‘ruim’. Já no caso do tecnobrega, o lance é o preconceito pelo desconhecido mesmo”, afirma Marcos Lauro, jornalista e colaborador da revista Rolling Stone.

Passeata em São Paulo contra a guitarra elétrica, 1967 (Foto: divulgação)
Para Marcos, a aceitação que esses ritmos encontram, muitas vezes, mais facilmente no exterior do que em território nacional não são indícios de particularidade do preconceito tupiniquim, que “é igual aos tantos outros preconceitos que o ser humano tem, independente se brasileiro ou não”. Entre esses seres humanos, está Rachel Sheherazade, âncora do noticiário “SBT Brasil” famosa por opiniões rígidas e reacionárias feitas em rede nacional. Recentemente, Sheherazade direcionou seus ataques a uma estudante carioca, mestranda em Culturas e Territorialidades, que elaborou um projeto de dissertação acerca da funkeira Valesca Popozuda e as relações de suas letras com o pensamento feminista. Na crítica à estudante, a jornalista não só se revelou pouco receptiva à sonoridade do funk como equivocadamente questionou a presença do ritmo na cultura e sua relação com o movimento feminista.
A rejeição causada pelas produções simples e letras superficiais – como no emergente “funk ostentação” – é colocada como questão de gosto, e, como diz a máxima, este “não se discute”. Entretanto, a insistência em marginalizar alguns gêneros musicais, excetuando-os do conceito de cultura e reservando minutos de um telejornal para colocar-se contra a realização de um trabalho acadêmico revela a continuidade de um elitismo cultural que aceita novidades apenas dentro de limitações e, geralmente, sob influência da mídia.
No Pará, a relação do tecnobrega com o público é semelhante. Oriundo sonora e ambientalmente das periferias, o ritmo compartilha uma produção simplista com o funk e isso mantém uma larga parcela da população distante. Os olhos e ouvidos reprovadores adaptam-se conforme a produção evolui e o movimento ganha visibilidade, embora – como em qualquer outro gênero – sua extensão menos pop, mais enraizada nas origens, e que atrai e destila um caráter transformador à população mais carente, segue pouco divulgada e disseminada.
Festas de aparelhagem
A promoção de uma diversidade musical é, há tempos, preocupação dos diferentes segmentos culturais, ainda que estes sejam delimitados e “pasteurizados”. No cenário atual, porém, as “novas mídias” criaram uma ampla diferenciação entre as medidas tomadas no chamado mainstream e nos meios mais independentes. Gaby Amarantos, que com sua música-tema de novela navegou pelas águas de grandes emissoras ao mesmo tempo que crescia no underground, serviu como expoente do tecnobrega, mas tornou-se mais um caso sui generis do que uma disseminadora efetiva do ritmo paraense. Para Yuri de Castro, jornalista e repórter do site Fita Bruta, hoje Gaby não é “nada para ninguém, nem para o indie e nem para o ouvinte de FM.[...] Não deu certo, investiram e não tocava em rádio. Ela tava dançando no Faustão, mas ninguém sabia que música ela cantava”.
Na opinião de Yuri, a também paraense Banda Calypso serve como um exemplo bem sucedido de disseminação dos ritmos e artistas locais, através da exposição que obteve no rádio. No entanto, ele afirma que ainda acha “muito pouca a invasão dos ritmos populares e pertinentes nas FMs e nas casas dos brasileiros”.
Por outro lado, o meio independente investe em produções diversificadas como “Jeito Felindie”, tributo ao Raça Negra em forma de compilação de covers do grupo gravados por bandas independentes. Idealizado pelo jornalista Jorge Wagner com grande apoio do Fita Bruta, o projeto reuniu artistas de regiões e sonoridades diferentes, todos fãs confessos do pagode de Luiz Carlos e cia., presença constante nas FMs de outras eras. Sem o mesmo investimento pesado e os grandes riscos do mainstream, a cena é ideal para projetos de qualidade e que rompam paradoxos, embora diante de um público consumidor bastante limitado. Segundo Marcos Lauro, “hoje o meio independente tem toda a força do mundo para fazer [as misturas] continuarem acontecendo”. No entanto, o jornalista deixa claro que, em sua opinião, a qualidade do resultado final independe da diversificação em si, e que “o artista nem deve ficar pensando muito nesse tipo de questão, senão ele não trabalha”.

Jeito Felindie: tributo de artistas indies ao pagode do Raça Negra (Foto: divulgação/Fita Bruta)
Em meio a isso, os grandes eventos musicais nacionais também tentam, à sua própria maneira, dar voz às novas tendências, também diante de uma notável discrepância entre “grandes” e “pequenos”. Enquanto o Rock in Rio, por exemplo, cria um lineup heterogêneo mas de bom senso discutível, que já rendeu de vaias a cantoras de axé e bandas emo a “chuva de garrafas” em Carlinhos Brown, festivais menores buscam medidas menos arriscadas. O Cultura Inglesa Festival, que vem realizando anualmente diversas atividades relacionadas à cultura britânica em São Paulo, de forma gratuita, busca chamar bandas de cenas alternativas do país para reinterpretar grandes grupos ingleses. Para a edição 2013, por exemplo, o Bonde do Rolê (um dos grupos nacionais preferidos dos gringos,incluindo Paul McCartney) tocará The Cure.
No entanto, enquanto as iniciativas supracitadas buscam acabar com a segregação de gêneros em “cultura” e “subcultura” e despertar interesse do público mais “elitizado” para sons abnegados, as novas vanguardas caminham com as próprias pernas. Ainda sobre o funk e o tecnobrega, Marcos Lauro denota suas características em comum: “não dependem da aprovação de qualquer elite, financeira ou intelectual, para acontecer. São autossustentáveis: vivem perfeitamente dentro do seu gueto e ainda têm força para conquistar novos públicos, apesar de todo esse preconceito”.
Tá na hora da virada
Em sua 9ª edição, a Virada Cultural de São Paulo também apresenta um quadro favorável à promoção da diversidade musical. O evento, que leva mais de quatro milhões de paulistanos ao centro da cidade para assistirem às atrações durante 24 horas, vem se adaptando ao cenário plural da cultura brasileira. Novidades como a presença de um palco para o funk e a volta dos Racionais MC’s (afastados desde 2007 após um conflito entre o público e a Polícia Militar) estão entre as mudanças que despertam a atenção de quem já estava acostumado com um outro tipo de espetáculo.
Isso se deve, em grande parte, aos esforços da organização para incluir na Virada a maior variedade possível de gêneros musicais. Em 2013, pela primeira vez, a curadoria do evento não foi individualizada e incluiu um grupo de nove pessoas – entre elas Sérgio Vaz, da Cooperifa, e Tião Soares, vice-presidente do Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais – que montaram, entre as mais de 900 atrações, um cenário que equipara os diferentes estilos ouvidos pelos brasileiros e apreciados pelo heterogêneo público que vive em São Paulo.
Para Yuri de Castro, “[n]esse ano a intenção foi aproximar ainda mais a população do evento. E acho que isso é uma tentativa de tornar a programação mais política, mais interessante para a população e também para quem se apresenta”. Ele também destaca que a mentalidade do evento não é trazer grandes shows “de ginásio” ao público, mas ser “um ambiente de deslocamento dos eventos quase particulares para a rua”. Já ao ser questionado sobre a variedade do extenso lineup, Yuri diz: “Vejo com muito orgulho o Racionais e o MC Dedé num mesmo horário. Da mesma forma como vejo feliz o Negro Leo e o Fabio Goes e o Sol na Garganta do Futuro no palco para quem é mais experimental”.
A nova gestão municipal busca aprimorar o evento, que já é um dos maiores do mundo devido à quantidade de pessoas que consegue agregar, e aceita a tarefa de lidar com seus desafios. Embora haja críticas em relação ao fato de a Virada concentrar seus palcos no centro da cidade, sem uma grande disposição de eventos nas periferias, Juca Ferreira, secretário da Cultura do município, ressalta a importância de se realizar a Virada de forma centralizada, em vez de espalhar as atividades pelo território. O que caracteriza a Virada, segundo Juca, é “a quantidade enorme de eventos concentrados em uma determinada área, permitindo um grau de convivência que a cidade não desfruta em nenhum outro momento”.
O histórico deficitário de infraestrutura cultural nas periferias fez com que a iniciativa de incentivo às atividades partisse dos próprios moradores, que não se veem representados oficialmente nas políticas públicas destinadas às artes. Os saraus, importantes agregadores de pessoas que produzem e apreciam poemas, músicas e encenações teatrais, têm sua relevância reconhecida e estão presentes na Virada Cultural, juntamente com os cortejos comandados por grupos de cultura popular, como o Toré dos Índios Pankararú e o Bloco Carnavalesco Ilê Ayiê.

Sérgio Vaz (centro) no Sarau da Cooperifa, que estará presente na Virada Cultural (Foto: Marlene Bergamo – FolhaPress)
O secretário Ferreira também cita a expressividade das minorias sociais que fazem parte da população paulistana e que não têm destaque quando se fala de cultura. “Essas populações são confinadas e invisibilizadas na cidade. Não têm um reconhecimento cultural, apesar de contribuírem pra cidade há muito tempo”, declara o secretário a respeito dos indígenas, nordestinos e negros que vivem em São Paulo. Em meio a um conservadorismo e elitismo já enraizados na mentalidade paulistana, que se acostumou a desprezar o que não faz parte do seu meio de integração, promover um cenário de convívio sem distinções é um grande desafio. Comentando sobre este elitismo e a intenção da Virada em extinguí-lo, Yuri de Castro afirma: “A elite cultural só se acabará quando a cultura estiver mais presente nas escolas. Para o que temos, acho que a curadoria foi bem pontual.”
Apesar de durar apenas 24 horas, a Virada Cultural cumpre um importante papel na tarefa de aproximar os diferentes – e não divergentes – estilos artísticos que fazem de São Paulo uma cidade tão plural, buscando familiarizá-los e afastar o “estranhamento” que, há mais de dois séculos, causa discriminação.
Todos os intertítulos desta reportagem fazem referência a títulos ou trechos de canções de alguns artistas citados.